sábado, 5 de novembro de 2011

'A influência da religião na economia de um país' - O Consolador

A vossa atenção para o editorial da revista espírita eletrônica 'O Consolador' desta semana:


O grau de religiosidade de um povo pode afetar a economia de uma nação?

Segundo pesquisa feita pelo Instituto Gallup em 114 países, a resposta é sim. Existiria forte correlação entre a renda “per capita” de uma nação e seu maior ou menor apego à religião. A leitura da pesquisa está resumida na seguinte frase: Quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país.

A exceção fica por conta dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, onde 65% dos norte-americanos atribuem importância à religião em sua vida diária, um índice bem superior à média dos países mais ricos, que é de 47%.

Não se podem contestar os números apresentados pelo Gallup, mas é importante que se diga que há quem faça dos resultados dessa pesquisa uma leitura diferente.

No campo da Sociologia, por exemplo, tradicionalmente se tem dito que é a pobreza que facilita a expansão da religião. Não seria a religião que determinaria a penúria de um país, mas, sim, a penúria de um país que favoreceria a expansão dos núcleos religiosos.

Essa afirmativa é-nos dada por Ricardo Mariano, da PUC-RS. Eis o que ele declarou em entrevista à Folha de S. Paulo (edição de 27/9/2010): "Em geral, as religiões ajudam seus adeptos a lidar com a pobreza, explicam e justificam sua posição social, oferecem esperança, satisfação emocional e soluções mágicas para enfrentar problemas imediatos do cotidiano". "As religiões de salvação prometem ainda compensações para os sofrimentos e insuficiências desta vida no outro mundo."

Outro aspecto que se deve ressaltar na pesquisa do Gallup é a inegável diminuição do fervor religioso nos países mais ricos, com a notável exceção da nação americana.

Em alguns desses países, como os que faziam parte do bloco liderado pela antiga União Soviética, a restrição à liberdade religiosa e o ateísmo estatal contribuíram para a baixa importância que a população atribui à religião, como se dá na Estônia e na Rússia.

Na Europa Ocidental, segundo Ricardo Mariano, os motivos seriam outros. A modernização, a laicização do Estado e o relativismo cultural é que teriam erodido a religiosidade do povo.

Religiosos diversos ouvidos pela Folha de S.Paulo (edição citada) entendem que a riqueza pode, de fato, reduzir o pendor das pessoas à religiosidade.

Para o padre jesuíta Eduardo Henriques, "a abertura a Deus é inversamente proporcional à segurança oferecida pela estabilidade econômico-financeira, com exceções, é claro. Espiritualmente falando, os pobres tornam-se sinais mais eloquentes de que ninguém, pobre ou rico, basta a si mesmo. Por isso Jesus chamou os pobres de bem-aventurados".

O teólogo adventista Marcos Noleto não só apoia tal pensamento, mas chega a ser até mais radical: "Há uma incompatibilidade da fé prática com a riqueza. Assim como dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar no espaço, na mente do homem não há lugar para duas afeições totais. Veja que Deus escolheu um carpinteiro e não um banqueiro para ser o pai de Jesus".

A discussão, como se vê, envolve duas conhecidas provas a que os Espíritos não podem fugir, se quiserem realmente progredir.

Segundo o Espiritismo, Deus concede a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza, para experimentá-los de modos diferentes.

Tanto uma quanto outra são provas muito difíceis, porque, se na pobreza o Espírito pode ser tentado à revolta e à blasfêmia contra o Criador, na riqueza expõe-se ele ao abuso dos bens que Deus lhe empresta, deturpando, com esse comportamento, os objetivos pelos quais a riqueza lhe foi concedida.

A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação. A riqueza é, para os que a usufruem, a prova da caridade e da abnegação.

É preciso que entendamos: a existência corpórea é passageira e a morte do corpo priva o homem de todos os recursos materiais de que eventualmente disponha no plano terráqueo. Pobres e ricos voltam, pois, à vida espiritual em idênticas condições, o que mostra que a posição social do rico ou do pobre não passa de expressão transitória e não tem a importância que a pesquisa do Gallup aparentemente sugere.

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