São muitas as superstições. Há os que acreditam na
lenda do saci-pererê, da mula sem-cabeça, dá crença de que gato preto dá azar.
Há também quem diga que não se deve passar por baixo de escadas, ou que não se
deve brindar com refrigerante e outras crendices que absolutamente, não têm
nenhum fundamento. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, superstição é o
sentimento religioso baseado no temor e na ignorância e que induz ao
conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança
em coisas ineficazes; crendice. Crença em presságios tirados de fatos puramente
fortuitos. Apego exagerado e/ou infundado a qualquer coisa: A moça tem a
superstição do número treze.
A
Doutrina Espírita credita as superstições à imaginação fantasiosa e à
ignorância. Nada é casual, acidental, inopinado ou imprevisto na natureza. O
item 2 do capítulo 18 do livro A Gênese, de Allan Kardec, diz que "Tudo na
criação é harmonia; tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas
menores, nem nas maiores coisas". Na questão 529 de O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec pergunta:-"Que se deve pensar das balas encantadas, a que se
referem algumas lendas e que atingem fatalmente o alvo?"
A
resposta: —Pura imaginação; o homem gosta do maravilhoso e não se contenta com
as maravilhas da Natureza. Na complementação da resposta a questão 555, Kardec
diz:-"O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de
fenômenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os fatos são
exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências,
que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira
causa, é o melhor preservativo contra as idéias supersticiosas, porque revela o
que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença
ridícula."
A
Ciência descarta as crendices, por não terem fundamento lógico. E o Espiritismo
marcha lado a lado com a Ciência. O item 8 do primeiro capítulo de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, diz que "A Ciência e a Religião
são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo
material, e a outra as leis do mundo moral. Mas aquelas e estas leis, tendo o
mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se umas forem a negação
de outras, umas estarão necessariamente erradas e as outras certas, porque Deus
não pode querer destruir a sua própria obra...."
"A
Ciência e a Religião não puderam entender-se até agora, porque, encarando cada
uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se
mutuamente"..." A instrução do Espírito de Verdade: "Espíritas:
amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as
verdades se encontram no Cristianismo; os "erros que nele se enraizaram
são de origem humana; e eis que, de além-túmulo, que acreditáveis vazio, vozes
vos clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os
vencedores da impiedade!" - O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 6,
item 5, nos conduz a outro raciocínio: quem se instrui, capacita-se a conhecer
a verdade e só ela libertará o homem da ignorância.
O
desconhecimento da verdade faz com que o homem permaneça na ignorância, que o
conduz à fé cega. Esta, por sua vez, conduz o homem ao fanatismo. Quando se
conhece a verdade, trilha-se o caminho da fé raciocinada. Servindo-nos ainda do
Evangelho, capítulo 19, item 6: "No seu aspecto religioso, a fé é a crença
nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas
têm os seus artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega. A
fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro e a cada
passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo.
Quando a fé se firma no erro, cedo eu tarde desmorona. Aquela que tem a verdade
por base é a única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do
progresso do conhecimento, já que o verdadeiro na obscuridade também o é à
plena luz. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade, mas
preconizar a fé cega sobre uma questão de crença é confessar a impotência para
demonstrar que se está com a razão.
'No
item seguinte deste capítulo, Allan Kardec diz que "Para crer, não basta
ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século".
Ora, Kardec disse isso no século passado. Logo, a afirmação está mais do que
apropriada. As superstições e crendices são como as bênçãos e maldições, que
atraem para o bem ou para o mal as pessoas cujos pensamentos estejam na mesma
sintonia daqueles que os emitiram.
Na
complementação da resposta à questão 549 de O Livro dos Espíritos, Kardec
explica:-"A dependência em que o homem se encontra, algumas vezes, dos
Espíritos inferiores, provém da sua entrega aos maus pensamentos que eles lhe
sugerem, e não de qualquer espécie de estipulações feitas entre eles. O pacto,
no sentido comum atribuído a essa palavra, é uma alegoria que figura uma
natureza má simpatizando com Espíritos malfazejos."
Na
questão 550, Kardec pergunta; "Qual o sentido das lendas fantásticas,
segundo as quais certos indivíduos teriam vendido sua alma a Satanás em troca
de favores?" A resposta: “-Todas as fábulas encerram um ensinamento e um
sentido moral, é o vosso erro é tomá-las ao pé da letra. Essa é uma alegoria
que se pode explicar assim: aquele que chama em seu auxílio os Espíritos, para
deles obter os dons da fortuna ou qualquer outro favor, rebela-se contra a
Providência, renuncia à missão que recebeu e às provas que deve sofrer neste
mundo e sofrerá as conseqüências disso na vida futura.
Isso
não quer dizer que sua alma esteja para sempre condenada ao sofrimento. Mas,
porque em vez de se desligar da matéria ele se afunda cada vez mais, o gozo que
preferiu na Terra não o terá no mundo dos Espíritos, até que resgate a sua
falta através de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Por seu amor aos
gozos materiais coloca-se na dependência dos Espíritos impuros; estabelece-se
entre eles um pacto tácito, que o conduz à perdição, mas que sempre lhe será
fácil romper com a assistência dos bons Espíritos, desde que o queira com
firmeza.
Conclusão:
Nós
espíritas, não acreditamos em superstições e crendices, não acreditamos no
acaso, ou que um gato preto, uma data ou até mesmo um talismã possam modificar
ou atrapalhar o andamento e o rumo das nossas vidas.
Reputar
a essas coisas legitimidade de decidir ou modificar nossas vidas, é passar
nossa responsabilidade a terceiros, esquecendo-nos da lei de efeito e causa ou
lei de ação e reação.
Somos
responsáveis por tudo que nós acontece, pois temos o livre-arbítrio e o poder
de tomar decisões a todos os instantes, o que automaticamente nos deixa
expostos as conseqüências dessas decisões, ou seja , causa e efeito, que
é comumente traduzido no espiritismo pela expressão “ a semeadura é livre,
mas a colheita é obrigatória.”
Superstição
é um sentimento religioso baseado no temor e na ignorância, o que induz ao
conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas, ou seja,
justamente ao contrario do espiritismo que não aceita dogmas, é baseado na fé
raciocinada onde tudo há um porquê e um motivo justo e racional para acontecer.
Como imaginar que um simples gato preto ou a presença
de uma inocente coruja no telhado possa significar males maiores? Como aceitar
a idéia de que o pé que primeiro pisa no chão, de manhã, possa determinar as
ocorrências do dia? E mais, como entender o absurdo de devemos sair pela mesma
porta que entramos? E que tipo de influência a roupa branca pode causar na
passagem de ano? Ou será mesmo que acreditamos que
bater três vezes na madeira pode alterar o rumo das coisas? E tem algo a ver
com a grandeza da vida o fato de ingerirmos certos alimentos em determinados
dias, por imposição de medos imaginários?
Ora, convenhamos! Nossa felicidade
ou nossa desdita estão determinadas pela postura e comportamento que adotamos.
São as opções de vida que determinam os acontecimentos. Opções de caráter reto,
digno, honesto, geram resultados de paz de consciência. Atos imorais geram
aflições, intranqüilidade. Algum absurdo nisto?
São os pensamentos, a intenção e a
vontade que atraem situações provocadoras de aflições ou sofrimentos. Pensando
no mal, alimentando inveja e ciúme, rancor ou sentimento de vingança, atraímos
exatamente essas ondas mentais que conviverão conosco e naturalmente
facilitarão ocorrências desagradáveis. O inverso também é real: pensando no
bem, nutrindo pensamentos de amor ao próximo, de confiança em Deus, estaremos
sintonizados com o bem geral que governa o Universo, para desfrutar de paz e
harmonia interior.
Gestos, roupas especiais, objetos
materiais, acessórios místicos, atitudes impostas por padrões que escapam ao
exame do raciocínio e da lógica, nenhuma influência possuem para nos proteger
ou mudar o rumo dos acontecimentos. Estes são sim alterados pela nossa decisão
e opção mental. Se achamos que o chamado “mal feito” vai nos atingir, estaremos
entregues à prisão mental que nós mesmos criamos.
Já é hora de nos libertarmos de tais
bobagens. Aprendamos a viver livres de superstições, tomando posse de nossa
herança de filhos de Deus que devem buscar continuamente o próprio
aperfeiçoamento, ao invés de nos prendermos a idéias impostas para criar medo e
dependência. Esses condicionamentos só existem na mente de quem os aceita. E
cada um de nós tem o dever de construir a sua e a felicidade alheia.
Afinal, vivemos para que? Satisfação
egoística, medos condicionados ou felicidade construída dia-a-dia?
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