Encontramo-nos, mais uma vez, na época da Páscoa. Páscoa é uma palavra
hebraica que significa "libertação". Com o êxodo, a Páscoa hebraica
significa a lembrança perene da libertação do povo hebreu da escravidão do ...Egito, por Moisés.
Como cristãos, somos levados ao longínquo passado
ao recordar a passagem de Jesus pela terra, a sua mensagem de perdão aos
inimigos e de amor à humanidade inteira. Esta época tem para os espíritas um
significado muito especial, pois lembra-nos que Jesus, vencendo a morte, nos
transmitiu um ensinamento fundamental: o de que a vida continua para além do
corpo físico, pois ele fez questão de aparecer aos apóstolos e a Maria de
Magdala, após o sepultamento.
Mas, aqui reside uma diferença substancial entre as
religiões cristãs e o espiritismo – a crença na ressurreição de Jesus.
Para nós, espíritas, Jesus ressurgiu no seu corpo
perispirítico ou espiritual e não com o corpo físico, esse já em decomposição,
com danos irreversíveis no cérebro ao fim de pouco tempo, de acordo com a
ciência.
As Igrejas cristãs continuam defendendo a ideia de
que o Cristo “subiu aos Céus” em corpo e alma, e de que o mesmo sucederá a
todos os “eleitos” no chamado “juízo final”.
A doutrina espírita, defensora da lógica e do
bom-senso refuta essa teoria, pela impossibilidade física de seres que já
faleceram ao longo dos séculos terem os respectivos corpos reconstituídos nas
suas estruturas orgânicas no dia do juízo final. Poder-se-ia argumentar que a
Deus nada é impossível, mas porque iria Ele derrogar as suas próprias leis
naturais, recorrendo a milagres?! Para mostrar o Seu poder aos homens? Mas Deus
apenas é. Nada precisa de provar.
Simultaneamente, tal ideia é contra qualquer noção
de justiça e de moral, pois mais justa será sempre a concessão ao homem duma
nova oportunidade de renascimento, tantas vezes quantas as necessárias, de modo
a que este tenha a possibilidade de corrigir os erros cometidos e de evoluir no
aprendizado intelecto-moral, de modo a alcançar novos patamares de crescimento,
rumo à perfeição.
É pela lei dos renascimentos, que o homem se
aproxima de Deus: ao “nascer de novo”, criam-se as condições de igualdade de
oportunidades para todos os espíritos e cumprem-se as palavras de Jesus: “em
verdade vos digo que ninguém verá a luz dos céus, se não nascer de novo”.
Outro aspecto que desde sempre nos foi transmitido
pela religião judaico-cristã tradicional é a noção da “culpa”. Jesus sofreu o
processo da crucificação para nos “salvar” dos nossos “pecados”, cometidos
desde Adão e Eva. E aqui em Portugal aí está a procissão do Senhor dos Passos,
realizada na Sexta-Feira Santa, simulacro que nos assusta desde tenra idade, do
“enterro” de Jesus, realizada à noite, com todo o aparato e negrume necessários
à manutenção da nossa “culpa”.
Para os espíritas, que não possuem rituais, nem
proibições de comidas ou de trabalho, a Páscoa é a época de lembrar mais uma
vez a necessidade da “libertação do homem velho”, no dizer de Celso Martins
para que, refletindo no exemplo de Jesus, possa nascer o “Homem Novo”.
Em vez de nos agarrarmos às exterioridades das
celebrações pascais, aproveitemos esta época para tentarmos mudar alguns dos
nossos hábitos, ser menos egoístas, mais caridosos e amigos com todos os que
nos rodeiam. Essa a verdadeira mensagem que Jesus nos deixou e a certeza de que
estará sempre ao nosso lado cuidando do nosso orbe e de cada um de nós,
auxiliando-nos no reerguimento, após cada uma de nossas quedas.
Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. Não
a do chocolate ou a do sofrimento, mas a sua Páscoa, a da sua “libertação”,
refletindo na sua transformação interior, a Páscoa da valorização da própria
vida na certeza da imortalidade.
Boa Páscoa
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